terça-feira, 29 de março de 2011

segunda-feira, 28 de março de 2011

"... Não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais forte do que querer a si próprio. Não compreendo como querer o outro possa pintar como saída de nossa solidão fatal.

Mentira: compreendo, sim.

Mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe, berrando de pavor para o mundo insano, e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó. O que ou quem cruzo esses dois portos gelados da solidão é vera viagem: véu de maya, ilusão, passatempo. E exigimos o eterno do perecível, loucos".

Caio F.

sábado, 26 de março de 2011

Sobretudo,

não se angustie

procurando-o:

ele vem até você,

quando você e ele estiverem prontos.



Caio F.

Porto 239


Porto Alegre me tem
Não leve a mal
A saudade é demais
É lá que eu vivo em paz


A carta que eu nunca te escrevi.

“ Caro G

Confesso que teu telefonema pegou-me completamente de surpresa. E na hora, talvez eu não tenha dito todas as coisas que eu pensei, ou já quis te dizer um dia. Quando atendi ao telefone meu cérebro já nem lembrava mais o teu número. E te juro, mesmo reconhecendo a sua voz, no seu primeiro alô, tive que confirmar quem era tamanho o meu espanto. Devo te dizer também que, meu jeito monossilábico, não foi uma forma fria e distante de te tratar, e sim porque nada melhor me passava pela cabeça, a não ser concordar ou discordar do que dizias.

Foi pensando muito, depois que tu desligaste o telefone e jogaste toda aquela enxurrada de frases sobre mim, pedindo que eu apenas pensasse naquilo tudo, foi que eu resolvi te responder. E não poderá ser por telefone, ou pessoalmente, e vais entender os motivos abaixo.

Lembro que, quando nos conhecemos, eu no auge dos meus 20 e poucos e você, já na casa dos 30 e algo, a atração entre nós fora irresistível. Estranho seria se eu não me apaixonasse perdidamente por ti. Era algo escrito. Estava nos olhares, nos toques sem querer, nas promessas mudas de nossos lábios. Lembro-me também que, nossas primeiras noites juntos me fizeram ver o mundo de outros olhos. Os olhos dos amantes. Dos enamorados.

Por todas as coisas que eu senti por ti, abri mão de muitos valores, aceitei muitas imposições, não implícitas, vivia em um mundo ‘separado’ da vida real, mas eu era imensamente feliz assim. Me doei a você de uma forma como jamais havia me doado, te amei como jamais havia amado outro ser humano, te venerei e idolatrei, como jamais fiz em toda a minha infância e adolescência. Te dei mais do que coisas matérias, te dei o que havia em mim de mais puro e imaculado.

Mas com o passar dos meses, talvez eu tenha te sufocado demais com o meu excesso de amor, talvez tu tenha perdido o interesse, o fato é que, o que era lindo, foi se transformando. Engraçado como eu não lembro ter percebido isso conscientemente, mas naqueles últimos dias, eu tinha uma necessidade gigantesca de ti.

Posso ainda lembrar o dia, uma terça-feira feita de Abril, quando você me dispensou, com o tradicional discurso sobre estar confuso, de o problema ser você e todos os outros clichês de um final de relacionamento. Senti a garganta seca, não consegui chorar por uma semana. Depois me afundei na minha amargura, me afastando de ti e de tudo que me remetia a ti, em uma tentativa desesperada de te arrancar do meu peito. Foram dias terríveis, noites insones. Lembro que, logo depois que nos afastamos, vou colocar assim porque acho que é assim que tu pensa que aconteceu, fiquei sabendo que tu já desfilavas com outra pessoa. Que, por ela, tiraste até a aliança do dedo. Jesus, ainda lembro que perdi o ar quando me contaram aquilo e fingir que estava tudo bem e que eu estava feliz por ti, foi uma das coisas mais difíceis do mundo.

Nos reencontramos, muitos e muitos meses depois. E sim, eu não pude resistir à oportunidade de te ter de novo. Só que, dessa vez, muitas coisas tinham mudado. Eu percebi no primeiro toque. No primeiro beijo. As borboletas já não estavam mais no meu estômago. Não perdia mais a linha de raciocínio. Simplesmente o sentimento lindo, puro, forte e que parecia indestrutível, era agora somente físico. Nada mais que isso.

Nos afastamos de novo, tu de volta a tua vida de alianças e compromissos e eu, de volta ao equilíbrio que sempre aparece quando chegamos à conclusão que uma relação acabou. Desta vez, nada fora dito. Palavras não feriram a ninguém, pelo menos na minha parte, porque as palavras só te ferem quando você sente algo por elas. Mas palavras não foram ditas. Apenas um afastamento gradual e consensual.

E confesso que, se não fosse o teu telefone fora de hora, eu já teria esquecido muitas coisas. Meu ego agradece saber que, embora você acredite que nunca tenha dito com palavras, você me amou, do seu jeito, obviamente. E que você tem consciência de que perdeu algo que era lindo e bom, e que se o tempo pudesse hoje voltar alguns anos, você com certeza, não me jogaria fora, como fizera. Meu ego também agradece saber que, muitas vezes, nos últimos anos, você quis me ligar e me dizer tudo isso, mas que ficou com medo de ouvir um não, obrigada! Durante os 20 minutos no telefone, ouvi de ti tudo que eu gostaria de ter escutado naquela terça-feira de Abril.

Mas a gente não pode voltar ao passado. Não se pode reconstruir o que se perdeu. Não pode colar pedaços estilhaçados. Hoje, eu posso te afirmar que nós dois foi muito importante na minha vida. Você me ensinou algo que, talvez mesmo na ‘maturidade’ dos meus 20 e poucos, eu nunca tinha aprendido. Me ensinou a esperar receber o mesmo amor, carinho, afeto e dedicação que eu dou e não me contentar com nada menos que isso. A me valorizar muito.

Por isso, eu te agradeço. Se você não tivesse me ensinado, de modo tão forte tudo isso, hoje eu não saberia reconhecer o verdadeiro amor da minha vida.

Obrigada e espero que você seja muito feliz.

Com Carinho. K”