segunda-feira, 11 de janeiro de 2010


De todas que me beijaram
de todas que me abraçaram,
já não me lembro, nem sei!
São tantas as que me amaram,
são tantas as que amei!
Mas tu (que rude contraste),
tu - que jamais me beijastes,
tu - que jamais abracei,
só tu nesta alma ficastes
de todas as que amei!

(Paulo Setúbal)

Meus amores são assim... Vermelhos...

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.


Por isso, alheio, vou lendo

Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

(Fernando Pessoa)