domingo, 7 de novembro de 2010

"Conservar algo que possa recordar-te seria admitir que eu pudesse esquecer-te."


Tenho me cansado de juntar os cacos de sua vida desregrada.
Limpar os pedaços.
Restaurar o que sobrou de sua auto estima, de seu amor próprio.
Colar, um a um, os fragmentos de sua vida.
Cansada de levar dias, semanas, meses neste trabalho árduo. E montar-te de novo.
Tornar aquele monte de pedaços quebrados, danificados e largados, novamente no que era.
Uma pessoa forte, incrível...
Cansada de soltar-te pro mundo, para então ver que, após os teus primeiros passos incertos e receosos, tu corres mais uma vez, para os "perigos do mundo".
E, inevitavelmente, ver-te voltar...
Meses depois... Em cacos, novamente...
Estou me cansando de te ver afundar em uma poça feia e suja, manchando o belo vestido que lavei e engomei, por amor a ti. Te ver subir a mais longa escada, do mais alto edifício e cair em queda livre, até estatelar-se novamente no chão...
Cansada de ver que só me procuras para colar seus pedaços.
Cansada de esperar que você entenda que um dia... serás apenas um monte de partes separadas e que nada poderá ser feito...

"Bonecas quebradas não servem mais para brincar"








" E é inútil procurar encurtar caminho e querer começar já sabendo que a voz diz pouco, já começando por ser despessoal. Pois existe a trajetória, e a trajetória não é apenas um modo de ir. A trajetória somos nós mesmos.
Em matéria de viver, nunca se pode chegar antes. A via-crucis não é um descaminho, é a passagem única, não se chega senão através dela e com ela. A insistência é o nosso esforço, a desistência é o prêmio. A este só se chega quando se experimentou o poder de construir, e, apesar do gosto de poder, prefere-se a desistência. A desistência tem que ser uma escolha.
Desistir é a escolha mais sagrada de uma vida. Desistir é o verdadeiro instante humano.
E só esta, é a glória própria de minha condição. A desistência é uma revelação."
Clarice Lispector